quarta-feira, 1 de maio de 2013
As Estórias foram ao CM Tv
Obrigada ao CM Tv pela oportunidade de divulgação deste meu trabalho, que continua a ser o único do género, (compilação de bilhetes de recados e estórias do dia-a-dia da farmácia), editado até hoje.
Lembro que o livro pode ser solicitado, para envio à cobrança, à sua editora Minerva Coimbra, através do endereço:
minervacoimbra@gmail.com
Não percam a promoção que vai decorrer durante uns dias.
Para quem não tem Meo, deixo algumas fotos ilustrativas desta entrevista
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Os médicos e as receitas
Agora vou entrar num verdadeiro campo de batalha.
Perdoem-me os nossos ilustres médicos, que eu muito respeito, mas não podia ficar indiferente e perder a oportunidade de os alertar para algumas das “dores de cabeça” que me provocaram e a tantos outros colegas.
Apesar de tantos anos de estudo, parecem ter esquecido como é bonito saber escrever para que os outros leiam. É que estamos a falar de receitas, de saúde, de pessoas…
Será que há algo mais importante que a nossa saúde?
Eu penso que não, portanto vamos tratá-la como assunto sério que é, onde não se admitem negligências.
Quando se fala em “letra de médico” não é propriamente com um sentido abonatório, mas sim depreciativo pelo facto de na maioria dos casos não se conseguir ler.
É certo que, com a prática e o hábito, nós, profissionais de farmácia, já temos alguma facilidade em descodificar o que está escrito. Mas, e quando é alguém inexperiente que nunca viu aquela letra à frente???
É muito complicado, acreditem, e o pior é a desconfiança com que alguns doentes ficam, duvidando se estamos a ler bem…
Nalguns casos só conseguimos “adivinhar” o medicamento prescrito após muito esforço, umas vezes com a ajuda do doente que sabe qualquer coisa sobre ele (nome, cor da embalagem, ou a que se destina), outras pelo histórico que existe na ficha de cliente da farmácia. E quando não temos essas ajudas?
Quando isso acontece ou existe dúvida só nos resta contactar o médico prescritor, o que nem sempre é fácil, pois grande parte das vezes ele já não está no local da consulta, obrigando-nos a aguardar pelo dia seguinte para nova tentativa de esclarecimento.Em casos de receituário do hospital há sempre a possibilidade de outro colega aceder ao processo do doente. Todavia, nem aqui os resultados são os mais perfeitos, pois algumas vezes o médico não escreve a prescrição na ficha clínica, deixando-nos mais uma vez na mão!...
Mas ainda me falta falar da situação em que acedemos ao médico e já nem ele próprio consegue ler o que escreveu!...
Sim, é verdade!
Sim, isto acontece variadas vezes!
Sim, assim vai o receituário manuscrito em Portugal!...
Vamos tentar fazer algo de novo…
…Pela nossa saúde!
Dada a sensibilidade do tema, não vou comentar individualmente cada receita, limitar-me-ei a esclarecer o que se devia ler em cada uma delas.
Podemos começar por comparar como escreve o médico
... e como escreve o doente
Thyrax
Norflex cp grd
Diprofos seringa
Dogmatil cp grd
Artane 2mg
Dafalgan 1g grd
Prosedar 15 mg comp
Nota: Este é o último capítulo, mas também o mais extenso e pelo que já me apercebi (isto encrencou uma vez mais...) vou ser obrigada a dividi-lo...
Uma receita invulgar
Nem todas as receitas podem ser aviadas na farmácia, principalmente quando são invulgares como esta!...
Parece que há casos clínicos que não precisam de medicamentos, o que é bom desde que se saiba o que aconselhar em alternativa!...
No caso de uma neurose a solução é simples…
“Para os devidos efeitos se declara que este militar anda a fazer tratamento psiquiátrico. Trata-se de um neurótico. É aconselhável do ponto de vista psiquiátrico que descanse um dia por semana e dê umas “penachadas”, com os devidos cuidados higiénicos, que em parte contribuirão para a resolução da sua neurose.”
Estamos perante o aconselhamento feito por um médico psiquiatra a um militar de serviço em Moçambique. Entretanto, como não são definidas todas as condições do tratamento têm a resposta do Coronel Médico
“Analisado o relatório médico ……………., considerando que no referido relatório se menciona:
1º - Que o Furriel Militar ………….., beneficiará com o descanso de um dia por semana.
2º - Que é aconselhável que dê umas “penachadas” com os devidos cuidados higiénicos, considerando por outro lado a que no mesmo relatório não é mencionado qual a frequência aconselhável das ditas “penachadas”, nem quais os cuidados higiénicos que o Psiquiatra preconiza, é esta chefia de parecer que:
1- Deverá ser distribuído trabalho a este Furriel Militar aos sábados à tarde para reduzir o seu descanso a um dia por semana como é preconizado.
2- O Médico Psiquiatra deverá definir os dias e frequência das “penachadas” propostas e assegurar-se “in loco” e “de viso” que o interessado tomou todas as medidas higiénicas que ele lhe indicar.
3- A apresentação para a medida deverá ser acompanhada de guia de marcha (ou de consulta externa) e sem qualquer dispêndio para a P.M., dado que a terapêutica proposta não está prevista na Assistência Sanitária.”
Quem sabe se esta não terá sido a solução eficaz para a neurose do nosso militar!!!