Agora vou entrar num verdadeiro campo de batalha.
Perdoem-me os nossos ilustres médicos, que eu muito respeito, mas não podia ficar indiferente e perder a oportunidade de os alertar para algumas das “dores de cabeça” que me provocaram e a tantos outros colegas.
Apesar de tantos anos de estudo, parecem ter esquecido como é bonito saber escrever para que os outros leiam. É que estamos a falar de receitas, de saúde, de pessoas…
Será que há algo mais importante que a nossa saúde?
Eu penso que não, portanto vamos tratá-la como assunto sério que é, onde não se admitem negligências.
Quando se fala em “letra de médico” não é propriamente com um sentido abonatório, mas sim depreciativo pelo facto de na maioria dos casos não se conseguir ler.
É certo que, com a prática e o hábito, nós, profissionais de farmácia, já temos alguma facilidade em descodificar o que está escrito. Mas, e quando é alguém inexperiente que nunca viu aquela letra à frente???
É muito complicado, acreditem, e o pior é a desconfiança com que alguns doentes ficam, duvidando se estamos a ler bem…
Nalguns casos só conseguimos “adivinhar” o medicamento prescrito após muito esforço, umas vezes com a ajuda do doente que sabe qualquer coisa sobre ele (nome, cor da embalagem, ou a que se destina), outras pelo histórico que existe na ficha de cliente da farmácia. E quando não temos essas ajudas?
Quando isso acontece ou existe dúvida só nos resta contactar o médico prescritor, o que nem sempre é fácil, pois grande parte das vezes ele já não está no local da consulta, obrigando-nos a aguardar pelo dia seguinte para nova tentativa de esclarecimento.Em casos de receituário do hospital há sempre a possibilidade de outro colega aceder ao processo do doente. Todavia, nem aqui os resultados são os mais perfeitos, pois algumas vezes o médico não escreve a prescrição na ficha clínica, deixando-nos mais uma vez na mão!...
Mas ainda me falta falar da situação em que acedemos ao médico e já nem ele próprio consegue ler o que escreveu!...
Sim, é verdade!
Sim, isto acontece variadas vezes!
Sim, assim vai o receituário manuscrito em Portugal!...
Vamos tentar fazer algo de novo…
…Pela nossa saúde!
Dada a sensibilidade do tema, não vou comentar individualmente cada receita, limitar-me-ei a esclarecer o que se devia ler em cada uma delas.
Podemos começar por comparar como escreve o médico
... e como escreve o doente
Thyrax
Norflex cp grd
Diprofos seringa
Dogmatil cp grd
Artane 2mg
Dafalgan 1g grd
Prosedar 15 mg comp
Nota: Este é o último capítulo, mas também o mais extenso e pelo que já me apercebi (isto encrencou uma vez mais...) vou ser obrigada a dividi-lo...
2 comentários:
Descobri hoje este blog acidentalmente, quando fazia uma pesquisa sobre borato de sódio. Achei as estórias absolutamente deliciosas. Muito obrigada por esta partilha.
Muito obrigada pelas suas palavras.
O blogue é um pequeno resumo do livro que escrevi em 2005 "Estórias que fazem a história de uma Farmácia". Aí sim, encontra mais de 200 papelinhos de recados e muitas das estórias que vivi atrás do balcão. Outros tempos...
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