terça-feira, 18 de novembro de 2008

A drogaria e suas drogas

Por estranho que pareça também, na Farmácia existia a secção de drogaria...

... Das anilinas ( amarela para o chão e castanha e preta para o calçado) à creolina...
... do

... óleo de risso???
Até lembra rissóis, mas não, não é nada disso...

Era mesmo óleo de rícino, neste caso para pôr nas botas e sapatos de pele que, na falta de sebo para as ensebar, eram esfregadas com este óleo para as impermeabilizar.

O óleo de rícino também é utilizado para preparações de exames médicos, para limpar os intestinos, para um melhor diagnóstico. É um método intragável, mas eficaz. Aconselho, a quem tiver que tomar um daqueles frasquinhos, que tenha logo por perto um bom copo de sumo de laranja ou café para cortar a gordura e o sabor horrível do óleo na garganta.
...
Era e ainda é na Farmácia que se vendem naftalina e cânfora utilizadas para pôr dentro dos roupeiros ou malas, a fim de evitar a traça.

A naftalina também pode ser utilizada, imaginem, para matar as toupeiras. Não, não tentando acertar-lhes com as bolas, mas sim introduzindo-as nos buracos que elas vão minando na terra. Também resulta encher esses buracos de água, mas não sei dizer se elas morrem afogadas ou pura e simplesmente fogem para bem longe...

Tanto a cânfora como a naftalina eram vendidas à unidade, o que nos deixava um cheiro magnifico o resto do dia... Era engraçado ver as clientes a fazer as contas de quantas bolas, ou pedras iam necessitar em função dos armários, malas e gavetas. Agora já temos tudo embalado, o que evita o contacto directo com o produto, e, portanto não se fica a cheirar a anti-traça!...

Um pedido muito frequente era:

- um garrafo de ácido para soldar...

Pretendiam o ácido clorídrico, também conhecido por muriático, muito utilizado pelos serralheiros para soldar zinco e estanho.

A propósito de ácido... neste caso súlfurico...

- Sabem que ele é "macho"???...

Um cliente pede-me o dito ácido para desentupir canos, e como eu o alertei para o perigo de deitar água directamente em cima, podendo salpicar e provocar queimaduras, ele responde-me:

- Não se preocupe minha senhora, eu sei que é perigoso, ele é "macho", trabalha por cima...

Imaginem a minha cara!...
Estamos sempre a aprender!
...
...

Pois é... só pretendemos 500g de perborato de sódio, utilizado como branqueador, essencialmente na roupa branca, quando adicionado ao detergente das máquinas de lavar roupa.

Também para a roupa nos era solicitada goma para engomar. Falo da goma crua, que era vendida em pequenas quantidades. Bastava dissolver um pouco em água, mergulhar nesta os paninhos ou toalhas e deixar secar um pouco até serem passados a ferro para, então, obter aquele bonito efeito das rendas e bordados mais em relevo e encorpados.

Além da goma crua existe ainda a goma adragante ou alcatira, usada para fixar as próteses dentárias. Agora já existem vários produtos para esse efeito, tanto em pó como em creme, que, como é óbvio, levaram a que esta caísse em desuso.

Para finalizar, não posso esquecer a goma arábica que serviu durante anos e anos para fazer a cola com que, por exemplo, se colavam as etiquetas dos medicamentos nas receitas.

- "Remédio" para o bicho do feijão?!?

- Quero veneno para o bicho do milho e do feijão... tem é que me arranjar dois "garrafos"..., um para a arca do milho e o outro para o feijão.

Este, para mim, foi dos produtos que mais me custou a manusear. Falo do sulfureto de carbono, que tem um cheiro horrível!

Hoje, felizmente, isto já passou à história; já existem pastilhas para esse efeito, mas "no meu tempo", tínhamos que arranjar frascos de vidro (normalmente aproveitávamos os de Martini, vazios, do café mais perto...), para posteriormente lavar em série e encher com o sulfureto, que empestava toda a Farmácia e todos nós.
Esses frascos eram colocados dentro das arcas ou dos sacos onde estavam os cereais, destapados ou com cortes na rolha de cortiça, ou sem rolha mas com um pano atado à volta do gargalo, para o sulfureto se ir evaporando lentamente.
...
...
Perante isto, já devem ter percebido que todos os produtos que agora se compram devidamente embalados e rotulados, já foram vendidos avulso por todas as Farmácias. Da benzina à vaselina, da aguarrás (essência de terebentina) ao óleo de amêndoas doces...

Curiosidades:
A água destilada era destilada na própria Farmácia!...
...
O álcool puro ia para a farmácia em bidões de 100 litros, que tinham que ser despejados para frascos de vidro, para depois ser vendido avulso. Essa melindrosa operação era normalmente feita por aspiração através de um bocado de mangueira, tentando desperdiçar o menos possível de álcool, mas essencialmente evitando a sua chegada à boca!
Já o álcool desnaturado ia em embalagens de 25 litros, mas o processo tinha que ser o mesmo do álcool puro, correndo os mesmos ou mais riscos!

Felizmente que, para o bem-estar de todos surgiram os produtos químicos devidamente embalados, evitando todos estes riscos até chegar às mãos do consumidor final.




2 comentários:

Sophia* disse...

Pessoas simples dão histórias lindas!!!! (Caro que também há que as saber contar! ihih)

Martissima disse...

Belos tempos esses sem a ASAE no controlo, a ver por acidos em garrafas de martini??? Bonito.... LOL