segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os anticoncepcionais

A evolução dos anticoncepcionais desde que eu comecei a trabalhar na farmácia até hoje foi deveras impressionante.

Lembro que existiam alguns preservativos, três ou quatro tipos de pílulas, e além disso só as espumas ou os cones anti-sépticos espermicidas tipo Rendells.

Recordo que existia um enorme pudor em relação a tudo quanto se relacionava com sexo e evidentemente que os homens eram os que mais se retraíam de falar com uma mulher sobre o assunto e seus derivados. Era engraçado vê-los a rondar a porta da farmácia, aguardando que estivesse um homem ao balcão para fazerem o seu pedido das “camisas sem mangas”!…

Logo nos primeiros tempos, recordo de me terem pedido uma caixa de Fósforos, e eu na minha santa ignorância indico que só no café ao lado ou na mercearia…

Pois parece tudo certo, só que na altura uma das marcas de preservativos existentes e mais utilizada era precisamente Fósforos, com uma embalagem quase igual aos vulgares de queimar!...

Fui salva por um colega que então me esclareceu e aí eu fui investigar todo o material existente!

Além dos Fósforos existiam outros que, curiosamente, tinham o formato de uma moeda (como há agora em chocolate), vendendo-se portanto individualmente. Havia mais uma ou duas marcas até que apareceram o Control e o Durex

As máquinas de venda no exterior apareceram muito mais tarde, vindo resolver o problema dos mais inibidos, mas dando origem ainda a algumas reclamações pois, por vezes, as caixas encravavam na saída da máquina e imaginem o desespero!...

Também cheguei a ser culpabilizada pelo facto de o preservativo ter rebentado e estar eminente uma gravidez!...

Como se eu tivesse algo a ver com o assunto.

São situações que podem acontecer, mas normalmente por falta de cuidado na sua utilização, o que ultrapassa as nossas responsabilidades.

Estas são apenas algumas das situações caricatas que durante anos aconteceram no meu dia-a-dia…

De frisar que os preservativos também eram conhecidos por prejorativos, camisas de vénus, e até pastilhas para as dores de cabeça ou para o enjoo… Os clientes habituais até já se limitavam a pedir por tamanho de embalagem de 6, 12 ou 24.

As pílulas contraceptivas existentes, Anovlar, Monovar, Microginon, etc., eram de elevadas dosagens o que obrigava a fazer pausas depois de alguns meses de toma contínua, situação nada agradável pois era nestas alturas que muitas mulheres engravidavam devido ao esquecimento de métodos de contracepção alternativos.

As queixas com este tipo de pílulas eram imensas, desde as pernas inchadas, ao aumento de peso, náuseas e dores de cabeça, impedindo assim algumas mulheres de as utilizar.

Apareceram entretanto umas mais fracas

Neomonovar

E muito depois as pílulas trifásicas como o Triquilar e o Trinordiol

Também os DIU (dispositivos intra-uterinos) foram evoluindo, mas não são os mais procurados. E eis que chegam as novidades: os implantes, os adesivos, e, por último, o anel vaginal de plástico flexível.

A última novidade foi, sem dúvida, a pílula do dia seguinte, mas atenção que esta não faz parte do grupo dos anticoncepcionais vulgares, mas sim de uma contracepção de emergência!...

É bom existir uma solução para um caso de violação, esquecimento de tomar a pílula ou se o preservativo se romper durante o período fértil, mas é lamentável que esta pílula esteja nalgumas situações a ser quase uma alternativa à prevenção!

O facto de se saber da existência de uma solução “fácil”, leva a que esta pílula seja procurada com alguma frequência pelas mesmas pessoas, essencialmente jovens.

Apesar de toda a informação existente sobre o assunto ainda prevalecem muitas dúvidas e, a meu ver, aumenta o desleixo que pode levar a grandes complicações. Entrámos na era do sexo fácil, da simples transa de uma noite em que se acontecer alguma coisa temos a pílula do dia seguinte…

Esquecem-se as doenças venéreas que cada vez mais são uma constante e todas as alterações hormonais a que uma mulher, a tomar por sistema esta pílula, vai estar sujeita, não esquecendo o mau estar que advém logo na altura da toma, enjoos e vómitos.

Na farmácia cumpre-nos ajudar e informar mas nem sempre a nossa informação atinge o objectivo, pois a publicidade e divulgação das revistas direccionadas a este público não são suficientemente esclarecedoras e a farmácia por vezes fica como a má da fita.

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